Ritos de passagem judaicos: ontem e
hoje
Para o povo judeu, liturgia é o “serviço do coração”. Todo
ato litúrgico, entre os ortodoxos, deve começar com um quorum mínimo de
dez homens. A liturgia constitui-se do Sehmá, “Declaração da fé
judaica”, e da Amidáh, série de ações de graças, que usa a fórmula
“Abençoado seja, ó Deus, Rei do Universo”. A cada semana, o shabat (sábado)
é celebrado ritualmente em três momentos: no início do sábado, para nós, fim de
sexta-feira, e no sábado de manhã e à tarde. A mulher inicia acendendo duas
velas. O sábado é recebido como uma noiva.
A sinagoga é o lugar de culto e oração dos judeus. O
substantivo sinagoga deriva-se do grego e quer dizer congregação ou assembleia.
Na verdade, sinagoga é o local do culto, do estudo e de reunião. É um centro
comunitários, lugar onde se discutem os problemas da comunidade e o local de
encontro e de resistência.
A sinagoga deve ser construída em direção a Jerusalém. As
sinagogas mais antigas datam do ano 50 a E.C, embora se possa falar que já
existiam na Babilônia (século V a E. C). Na sinagoga, o homem deve-se cobrir
com o kipá (solidéu), para mostrar sua limitação diante do Criador, e a
mulher, a peruca, para impedir a atração sexual do homem. Ainda hoje, nas
sinagogas ortodoxas, os homens não se misturam com as mulheres. Estas têm um
lugar à parte. O contato com as mulheres pode distrair o homem no momento de
oração e leva-lo ao adultério. Entre os ortodoxos, a mulher não tem obrigação
de ir à sinagoga para rezar. Ela precisa somente manter o lar judaico.
Na liturgia judaica, há também os ritos de passagem; cada um
deles, assim como os sete sacramentos cristãos, acompanha a vida do fiel. Para
entender a fé bíblica do Primeiro e do Segundo Testamentos, precisa-se
compreender os ritos judaicos de passagem (cf. FARIA, Jacir de Freitas. Israel
e Palestina em três dimensões: história, cultura, geografia; judaísmo,
islamismo e cristianismo. Belo Horizonte: Província Santa Cruz, 2010. P.
51-57. O livro vem acompanhado de um DVD com mais de 300 imagens de Israel e da
Palestina). Passamos a explica-los:
CIRCUNCISÃO
– Festa para marcar no corpo do menino a sua pertença ao povo judeu. O prepúcio
do pênis é cortado, isto é, corta-se aquilo que circunda. Daí circuncisão. Com
esse gesto, o menino passa a ter o pênis liberado para cumprir o dever sagrado
de gerar vida, crescer e multiplicar, bem como anunciar a Torá. Ele passa a ser
o “homem da palavra”. O substantivo hebraico milah pode ser traduzido
como “palavra ou circuncisão”. Nesse dia, o menino recebe o nome judeu e a
menina, uma bênção especial. A circuncisão não torna a criança judia. Hoje,
essa operação é feita em hospitais.
BAR MITZVAH
– Festa que celebra a maturidade do menino judeu, quando atinge 13 anos. No shabat,
o menino lê a Torá, tornando-se apto ao cumprimento do Mandamento. Bar
Mitzvah significa sujeito ao mandamento. Entre os liberais, as
meninas também celebram essa festa da maturidade. Jesus, por ser adulto e
circuncidado, pôde ler o livro do profeta Isaías na sinagoga de Nazaré. Para
muitos meninos judeus de hoje, a grande glória é poder celebrar seu bar
mitzvah no muro das Lamentações, em Jerusalém. Eles carregam a Torá como se
fosse uma noiva, uma esposa amada.
CASAMENTO NO TEMPO DOS RABINO - Em Israel, no tempo de Jesus, e mais especificamente no
tempo dos rabinos (dos séculos II ao IV da E.C.), o casamento era realizado em
três etapas, a saber: namoro, noivado e núpcias.
a) Namoro. São as preliminares
de um futuro casamento. Um acordo, oral ou escrito, era feito entre os parentes
dos jovens ou com o casal. Nele, eram acordados o local do casamento, a data, o
tempo em que os pais manteriam o jovem casal e o valor da mulher (dote) da
mulher, a ser pago pelo homem. Uma mulher virgem valia 200 zus, viúva e
divorciada, 100 zus, e a filha virgem do sacerdote, 400 zus. As
virgens deviam casar-se até a quarta-feira, as viúvas, na quinta-feira. Isso
garantiria, no cartório, a devolução da noiva, caso não fosse virgem. Os
rabinos exigiam a fase do namoro. Quem não obedecesse era flagelado.
b) Noivado.
É a segunda fase do matrimônio, considerada o momento de santificação da
mulher. Em uma festa, que podia durar até sete dias, o ritual poderia acontecer
de um dos três modos:
1) Entrega de um objeto de valor. Na presença de duas
testemunhas do sexo masculino, o noivo, com uma moeda ou outro objeto de valor
nas mãos, dizia para a mulher as seguintes palavras: “Seja minha mulher. Case-se
comigo. Seja a minha propriedade! Hoje, com esse gesto, você passa a pertencer
ao povo de Deus”. A noiva podia ou não aceitar a proposta, mas sempre aceitava.
Mais tarde, o objeto de valor passou a ser uma aliança.
2) Entrega de um documento, no qual constariam os
nomes dos noivos e as condições do casamento.
3) Por meio de um ato sexual. Na presença de duas
testemunhas, realizava-se um ato sexual. Comprovada a virgindade da noiva, o
noivo dizia: “Com este ato sexual, você está casada comigo”. Esse modo de
realizar o matrimônio, a partir do século III, foi abolido, por ser considerado
imoral.
c) Núpcias. É a última etapa do
casamento, sendo sua conclusão jurídica. Nela, a noiva era introduzida debaixo
de um baldaquino, onde os noivos recebiam a bênção nupcial. Essa fase devia
ocorrer 30 dias após a segunda, para as viúvas e divorciadas, e no espaço de um
ano, para as virgens. A menção de Jesus a esse fato ocorreu com sua comparação
do Reino com as dez virgens que deviam manter óleos nas lamparinas à espera do
noivo que viria quando bem entendesse no prazo estabelecido.
MATRIMÔNIO HOJE – Na
presença de um rabino e dez homens, os esposos assumem as obrigações da ketubáh.
Inicialmente, faz-se um ato simbólico de compra da noiva. Segue a assinatura da
ketubáh pelas testemunhas e pelo esposo. Os noivos são introduzidos
debaixo de um baldaquino e, com uma taça de vinho, é pronunciada a primeira
bênção. O noivo entrega um anel à noiva e lhe diz: “Você está consagrada a mim
com este anel segundo a lei de Moisés e Israel”. Faz-se a leitura da ketubáh.
Com uma segunda taça de vinho, é realizada a segunda bênção. Os noivos são
levados para um quarto e simulam ou fazem um ato sexual.
PÁSCOA – Não é
propriamente um rito de passagem, mas significa “passagem” do cordeiro na
constelação, o que veio a sifnificar a libertação, a passagem do povo pelo mar
Vermelho, quando o povo se libertou da escravidão do Faraó, no Egito. Os
Samaritanos atuais, remanescente de seus ancestrais, que se constituíram como
povo judeu, na Samaria, após a destruição do reino do Norte pelos assírios, em 722 a.E.C., celebram ainda
hoje a páscoa samaritana, no monte Garizim.
MORTE E SEPULTAMENTO
– O sepultamento deve ser breve. O corpo, envolto em um lençol, é levado ao
cemitério, onde são recitados versos bíblicos e litúrgicos. Os homens enterram
o defunto. O morto não pode ser velado por muito tempo. Sobre os olhos e a boca
do falecido, coloca-se também uma pedra, de modo que, ao se encontrar com o
Criador, ele não questione sua morte e tampouco veja o Criador antes do juízo
final. Um pouco de terra é jogado na cabeça do falecido para lembrar-lhe que
ele veio do pó da terra. Outro bocado é jogado sobre sua genitália, para
demonstrar que a criação vem da terra, a genitália é apenas um meio. Os judeus
também têm o costume de não voltar para a casa depois do enterro, de modo que o
anjo da morte seja despistado. Eles também comem algo doce para tirar o amargor
da morte.
Todos esses ritos de passagem são a expressão de fé do povo
judeu em querer ser fiel a Deus, que o libertou da escravidão do Egito. Egito
nunca mais! Ser santo e puro com Deus é. Eis o desafio judaico, que as páginas
da Bíblia registraram.
Por –
Prof. Manoel Rodrigues
Bacharel em Teologia-INTA
Lic. em Ciências da Religião-INTA
Pós-graduado em História das Religiões-FAENTEPRE
Formado em Letras-SESB
Pós-graduado em Língua Portuguesa-INTA
Graduado em Biologia-UEMA
Nenhum comentário:
Postar um comentário